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A revolução silenciosa da indústria portuguesa: digital, verde e humana
14 Outubro, 2025

A indústria portuguesa vive um momento decisivo, impulsionada por transições ecológicas, digitais e geopolíticas que estão a redefinir os paradigmas produtivos. Hoje, já não se discute se a digitalização e a sustentabilidade são necessárias, mas como e com que rapidez empresas, clusters e o ecossistema de inovação as irão concretizar.

Portugal dispõe de talento, centros de I&D de excelência e um tecido de PME resiliente, por isso os alicerces estão lançados. O verdadeiro desafio, porém, está em escalar simultaneamente a digitalização e a sustentabilidade, garantindo que ambas avancem de forma integrada e estratégica.

Desafios e oportunidades da Indústria 5.0

No panorama global, as economias mais competitivas seguem já o caminho da dupla transição (digital e verde), inspiradas pelo conceito europeu de Industry 5.0. Esta nova abordagem transforma a antiga lógica da Indústria 4.0, centrada na automação, numa indústria sustentável, humana e orientada por propósito.

Portugal acompanha esta tendência, mas ainda enfrenta um desfasamento relevante na adoção de tecnologias digitais e computacionais avançadas, bem como na formação de competências técnicas à escala necessária. As tecnologias digitais deixaram de ser meras ferramentas: são hoje motores de transformação estrutural, capazes de impulsionar simultaneamente a produtividade, a sustentabilidade e a competitividade.

Entre as principais tendências que moldam esta transformação destacam-se:

  • A convergência digital-verde (dupla transição) — sensores IoT e plataformas digitais permitem otimizar consumos energéticos, prever manutenção e reduzir desperdício, criando sinergias entre eficiência operacional e redução de emissões;
  • A Inteligência Artificial e a análise avançada de dados industriais, que potenciam o controlo da qualidade, a otimização logística e a diminuição do impacto ambiental quando integradas com dados de ciclo de vida;
  • Os sistemas ciberfísicos e a manutenção preditiva, que prolongam a vida útil dos equipamentos e viabilizam modelos de negócio circulares, como o product-as-a-service.
  • As plataformas de dados, a interoperabilidade e a cibersegurança, que sustentam ecossistemas colaborativos e cadeias de valor mais resilientes;
  • As tecnologias para a circularidade, como os digital twins para design regenerativo, o blockchain para rastreabilidade de materiais e o fabrico aditivo para reparabilidade e redução de desperdício.

Quais as ações a implementar pelas empresas?

  • Começar por projetos-piloto com retorno económico e ambiental;
  • Migrar para modelos de negócio circulares (product-as-a-service);
  • Investir em plataformas de dados industriais e governance digital;
  • Combinar financiamento público, ESG e parcerias tecnológicas;
  • Medir impacto com KPIs de energia, carbono e circularidade.

A transição digital e sustentável da indústria portuguesa depende, em grande medida, do capital humano. São as competências que farão a diferença e determinarão a capacidade de adaptação e inovação das empresas. Entre estas destacam-se a engenharia de dados, a inteligência artificial aplicada à indústria e a cibersegurança, pilares da digitalização. A par destas, ganham relevância o ecodesign e a gestão do ciclo de vida dos produtos, essenciais para integrar a sustentabilidade desde a conceção até ao fim da utilização. Cresce também a procura por perfis híbridos, que aliem competências técnicas a uma sólida visão de negócio, bem como por lideranças com literacia digital e sensibilidade ESG, capazes de guiar equipas e organizações nesta dupla transição.

É neste contexto que assume particular relevância o papel das instituições de investigação e desenvolvimento, como o Instituto CCG/ZGDV, que funcionam como ponte entre a ciência e a indústria, apoiando as empresas através de soluções tecnológicas, transferência de conhecimento e capacitação especializada, através de:

  • Transferência tecnológica aplicada: prototipagem de soluções (simulação de processos, digital twins, análise de dados industriais) que reduz o tempo desde a ideia até ao produto/serviço comercial;
  • Desenvolvimento de competências e ambientes de experimentação: formação, workshops, living labs e projetos conjuntos que permitem às PME testar sem compromisso e formar equipas;
  • Apoio à internacionalização e à captação de fundos: ajudando empresas a encaixar em programas europeus e em consórcios transnacionais;
  • Facilitar a adoção de standards e boas práticas: interoperabilidade, cibersegurança, e metodologias para avaliar circularidade e sustentabilidade.

Portugal reúne hoje as condições para transformar a sua base industrial numa verdadeira vantagem competitiva. A questão já não é apenas automatizar, mas repensar processos, gerar valor sustentável e competir num mundo onde inovar é, também, preservar.

Para concretizar esta ambição, as empresas devem aliar o investimento tecnológico ao desenvolvimento de talento e fortalecer parcerias com centros de I&D, como o Instituto CCG/ZGDV, que desempenham um papel decisivo na aceleração da aplicação prática de soluções inovadoras. Adiar esta transição terá um custo superior ao investimento necessário hoje. A competitividade do futuro será escrita por quem digitaliza com olhos verdes e mãos qualificadas.

Artigo de opinião de Valdemar Sousa, Science and Business Manager for Industry do Instituto CCG/ZGDV